quarta-feira, 1 de setembro de 2010

OFICINA 5

TODA RIMA COMBINA?

.Objetivos:
A oficina está dividida em quatro etapas.

Reconhecer rimas em poemas.
Conhecer as diferentes combinações de rimas.
Produzir poemas com rimas.

Material
 Coletânea de poemas
 CD-ROM de poemas
Aparelho de som
Datashow
Papel kraft ou cartolina, canetas hidrográficas e fita crepe
Dicionário de língua portuguesa
 
 Rimas e quadras

Compor rimas é um exercício divertido, mas dá trabalho! Muitas vezes, é preciso recorrer à memória e ao dicionário para encontrar palavras que normalmente não usamos. Com as rimas os poemas podem ganhar sonoridade.Num primeiro momento, reconhecer rimas, começando por poemas que têm uma forma simples e popular, como as quadrinhas.

Vocês sabem o que é quadrinha?  Trata-se de um poema de apenas quatro versos. É uma forma poética antiga, comum na cultura popular e bastante conhecida pelas crianças, principalmente por meio das cantigas de roda. Quem não se lembra?

O cravo brigou com a rosa,
Debaixo de uma sacada.
O cravo saiu ferido,
E a rosa despedaçada.
poetas da escola



Escrevendo na lousa a quadra:

Lá no fundo do quintal
Tem um tacho de melado
Quem não sabe cantar verso
É melhor ficar ____________
Ricardo Azevedo. Armazém do folclore.
São Paulo: Ática, 2000.


As crianças gostam muito de quadrinhas, versos e trava-línguas e como já foi feito na oficina anterior, utilizei as que aprenderam a cantar com as zeladoras e pais para pedir que alguns escrevessem no quadro que dividi em três partes para a turma refletir sobre as rimas e melodia das quadrinhas.

Depois pesquisamos em livros antigos quadrinhas e pequenos versos e montamos um fichário para leitura e futuras consultas a fim de criar os próprios textos.


Com o auxílio do datashow, projetei o poema “Canção do exílio”, para juntos analisarmos os versos, rimas, estrofes e expressões que estão arranjadas no texto. Chamando a atenção para o fato de que não apenas as rimas constituem cadências e melodias.

Como gostam de rimas a maioria não tem problemas em identificar as rimar.


 


1a Etapa

Rima: é a semelhança sonora entre duas palavras ou a identidade de sons no final das palavras, a partir das vogais tônicas, aquelas que estão na sílaba tônica, ou seja, na sílaba da palavra que é pronunciada com mais intensidade.

Versos regulares: são os que apresentam ritmo regular e rimas.Quando um poema tem versos de ritmo regular que não apresentam , dizemos que ele se compõe de versos brancos.
Um verso que não rima com os demais do poema recebe o nome de verso solto.

Lemos estes conceitos, interpretamos, copiamos no caderno e pesquisamos alguns exemplos práticos.


Identificando as rimas.

Escrevi na lousa as quadras:

Não sei se vá ou se fique
Não sei se fique ou se vá
Ficando aqui não vou lá
E ainda perco o meu pique.

     Sílvio Romero. Contos populares do Brasil.
     Rio de Janeiro: José Olympio, 1954.

Ô seu moço inteligente
Faça o favor de dizer
Em cima daquele morro
Quanto capim pode ter?

             Ricardo Azevedo. Armazém do folclore.
             São Paulo: Ática, 2000.

Pedi para lerem estes versos na coletânea e também copiar no caderno. Depois perguntei em quais versos estavam as rimas e para pintarem com lápis da mesma cor as rimas que combinavam e quais eram as diferenças entre as formas  como as rimas se apresentaram nos dois poemas.O que identificaram sem dificuldades
Os versos podem rimar de diferentes formas. Na primeira quadra, recolhida por Sílvio Romero, o primeiro verso rima com o quarto (fique e pique) e o segundo verso rima com o terceiro (vá e lá).
Já Ricardo Azevedo rima o segundo verso com o quarto (dizer e ter).


3ª - etapa

Mais quadras

Embora seja uma forma poética popular, a quadrinha também está presente em obras consideradas cultas. Grandes poetas compuseram quadrinhas, entre os quais Fernando Pessoa, um dos mais consagrados poetas da língua portuguesa.

Os estudiosos de sua obra registraram mais de quatrocentas quadras, algumas sem data. Acredita-se que ele tivesse a intenção de compor um livro com elas, mas isso nunca ocorreu.

 Muitos poetas usam pseudônimo: um nome inventado para assinar alguns poemas ou até mesmo livros.

Já no heterônimo isso não ocorre. Nesse caso, o poeta assume outra personalidade, outro modo de compor, outro estilo. A obra do heterônimo não se parece com aquela assinada pelo próprio poeta.

 Fernando Pessoa:

 “A quadra é um vaso de flores que o Povo põe à janela da sua alma”.




Vale a pena ser discreto?
Não sei bem se vale a pena.
O melhor é estar quieto
E ter a cara serena.
Quadra 18 (18/8/1934 – data provável)

Não digas mal de ninguém,
Que é de ti que dizes mal.
Quando dizes mal de alguém
Tudo no mundo é igual.
Quadra 62 (11/9/1934)

Fernando Pessoa. Obra poética VI.
Porto Alegre: L&PM, 2008.

Fernando Pessoa, Lisboa (Portugal), 1888.
 É considerado um dos maiores poetas da língua portuguesa de todos os tempos. Em sua obra, ele usou vários heterônimos, que formavam personalidades completas. Tinham biografia, estilos literários próprios, maneiras diversas de ver o mundo. Era como se Fernando Pessoa encarnasse outras pessoas imaginadas
por ele. Em alguns poemas, Pessoa assinava o próprio nome. Em outros, assinava Alberto Caeiro, um poeta que buscava a simplicidade da natureza e preferia linguagem e vocabulário simples. Em outros ainda, assinava Ricardo Reis, que tinha uma forma humanística de ver o mundo e procurava um equilíbrio similar ao dos clássicos. Outro heterônimo era Álvaro de Campos, um poeta moderno, um homem identificado com o gosto e os costumes de seu tempo. Divida os alunos em grupos e entregue a Coletânea a eles.

No CD escutando a leitura das quadras abaixo:

Quadras ao gosto popular

Eu tenho um colar de pérolas
Enfiado para te dar:
As perólas são os meus beijos,
O fio é o meu penar.
Quadra 2 (27/8/1907)

A caixa que não tem tampa
Fica sempre destapada.
Dá-me um sorriso dos teus
Porque não quero mais nada.
Quadra 9 (11/7/1934)

No baile em que dançam todos
Alguém fica sem dançar.
Melhor é não ir ao baile
Do que estar lá sem lá estar.
Quadra 17 (4/8/1934)


As quadrinhas têm quatro versos, geralmente com sete sílabas poéticas, ritmo típico da poesia popular. Veja:

“Não / di / gas / mal / de / nin / guém,/”.

1 2 3 4 5 6 7

Esse verso também é chamado de “redondilha maior”. O ritmo aliado às rimas dá às quadras cadência e sonoridade peculiares.

 Depois de escutar as quadrinhas os educandos leram as quadrinhas em duplas um para o outro para treinar e depois apresentar juntos para a turma.  Perguntei-lhes que palavras rimam em cada quadra.

Levando-os a compreenderem que nas três primeiras quadras o segundo verso sempre rima
com o quarto: dar/penar; destapada/nada; dançar/estar. Nas duas últimas, o primeiro verso rima com o terceiro: discreto/quieto; ninguém alguém.

A seguir, cada aluno vai criar uma quadra.

Alguns exemplos:

Essa noite tive um sonho... Você diz que sabe tudo...

Menina dos olhos tristes... Atirei um cravo n’água...

Você vive reclamando... Que passeio divertido...

Os alunos criaram lindas quadrinhas:

Suco gelado
cabelo arrepiado
Qual é a letra
do seu namorado?
Jaine Bahr

Plantei um pé de banana
E também um pé de maracujá
O de banana virou cana
E o de maracujá morreu já
Vanessa Bahr

A chuva pinga
A chuva chove
Quanto mais o pingo pinga
Mais a chuva chove
Jaine Bahr

Mão no chão
Pé no ar
com cuidado meu irmão
troque de lugar
Jaine Bahr

Vida cheirosa dá flor
O girassol e o amor
Rosas e cravos
Regiane Godóis

Mordi meu cão
Furei meu colchão
Deu uma dor no coração
e morrí de emoção
Iris Lopes

Borboletas, espoletas
que não andam de muletas           
e fazem muitas caretas.
Irís Lopes

O pequeno leão
Sempre com o pé no chão
Muito brabão
Comendo macarrão
André Biaobock

4ª - etapa

Qual o papel das rimas?

Nessa atividade, a turma vai compor um texto coletivo. Não se trata de uma simples colagem de frases. O texto deve fazer sentido e ser harmonioso.

“Duas dúzias de coisinhas à toa que deixam a gente feliz”.

Escrevi na lousa o título para que pudessem visualizar. Dividindo o quadro de giz ao meio: de um lado, escrevi as coisas simples sugeridas pelos alunos; do outro, as grandes e importantes.
Solicitei aos alunos que ouvissem “Duas dúzias de coisinhas à toa que deixam a gente feliz” no aparelho de CD.

Poema

Rimas externas – Aquelas das palavras posicionadas no final dos versos:

Não digas mal de ninguém,
Que é de ti que dizes mal.
Quando dizes mal de alguém
Tudo no mundo é igual.

Rimas internas – As das palavras que se localizam no interior dos versos:

Anãozinho de jardim, lacinho de cetim, terminar o livro assim.

Passarinho na janela, pijama de flanela, brigadeiro na panela.

Rimas externas e internas

Duas dúzias de coisinhas à toa que deixam a gente feliz

Passarinho na janela, pijama de flanela, brigadeiro na panela.

Gato andando no telhado, cheirinho de mato molhado, disco antigo sem chiado.

Pão quentinho de manhã, dropes de hortelã, grito do Tarzan.

Tirar a sorte no osso, jogar pedrinha no poço, um cachecol no pescoço.

Papagaio que conversa, pisar em tapete persa, eu te amo e vice-versa.

Vaga-lume aceso na mão, dias quentes de verão, descer pelo corrimão.

Almoço de domingo, revoada de flamingo, herói que fuma cachimbo.

Anãozinho de jardim, lacinho de cetim, terminar o livro assim.

Otávio Roth. Duas dúzias de coisinhas à toa que deixam a gente feliz.
São Paulo: Ática, 199

Conversei com os alunos sobre o texto. Eles  perceberam que se trata de uma espécie de lista. Nesse caso, uma lista poética, marcada por rimas internas.

Observando, os exemplo, dos dois primeiros versos:

Passarinho na janela, pijama de flanela, brigadeiro na panela.

Gato andando no telhado, cheirinho de mato molhado, disco antigo sem chiado.


Projetei o poema na lousa e grifamos  as rimas junto
Instigando-os com perguntas:

Por qual razão o poeta teria feito essa escolha?

Esse recurso poderia favorecer a unidade do poema?

Em seguida, pedi aos alunos que observasem a pontuação do texto: um ponto-final, no fim de cada verso; e expressões separadas por vírgulas, no interior de todos eles.

Transcrevi essas expressões na lousa, novamente divida ao meio: de um lado, coisas simples e cotidianas; de outro, as mais abrangentes.


Para intermediar questões mais amplas como:

 O grito do Tarzan, herói que fuma cachimbo, terminar o livro assim [dados do universo cultural que envolvem repertório de leitura]; eu te amo e vice-versa [relacionamento afetivo]; almoço de domingo [reuniões familiares].

Atividades

Estratégia de leitura
Os alunos vão observar as duas listas e ver que o título anuncia a lista de “coisinhas” importantes para a felicidade do poeta e, talvez, de outras pessoas. Tanto as banais quanto as essenciai são importantes, todas preenchem nossa vida. Por isso aparecem misturadas.

Cabe ao professor levar a classe a observar que tanto a sonoridade – as rimas – quanto a combinação de palavras – organização sintática – contribuem para o sentido do texto e para garantir sua unidade, sua composição harmônica e coerente.
Num poema, todos os aspectos são importantes para se interpretar o texto.

Em seguida, os alunos vão compor, em grupos, um poema com recursos parecidos. Deverão, pois, criar um texto com as seguintes características: semelhante a uma lista – de meia dúzia, de uma dúzia, duas ou três dúzias de coisas que sejam importantes para eles;
composto de cinco ou mais versos – que apresente rimas internas e, se possível, externas.
Existem alguns modos de mostrar como um texto é estruturado ou apontar determinados recursos linguísticos. Um deles é sublinhar ou circular – de diferentes cores – os elementos que se quer destacar.

Ao longo das oficinas, esse recurso será usado algumas vezes.

Cada aluno pensou  numa “coisinha” e a anotou no caderno.

A palavra selecionada deve combinar com outras para compor uma expressão. A seguir, cada aluno vai procurar outros dois colegas cuja expressão rime com a dele.

  Procurar palavras e encontrar rimas para elas. criar  listas e procurar termos no dicionário. Eles devem evitar o uso de aumentativo e diminutivo, porque esta seria uma solução fácil e por vezes empobrecedora.


Se não conseguirem outras expressões com a mesma rima, deverão mudar as palavras, buscando sinônimos ou trocando as escolhas, até combinarem três com as mesmas rimas.

Ficam assim formados grupos de três alunos, sendo importante que cada trio obtenha três “coisinhas” incluídas em três expressões que rimem.



Em seguida, o trio vai compor um verso, comparando as escolhas de cada um de seus membros, para decidir em que ordem elas vão aparecer: qual a primeira, a segunda, a terceira. Cada trio apresentará, então, o que compôs.
Copiei  na lousa a formação das equipes. A classe,em conjunto, vai decidir em qual ordem eles devem figurar no poema.

Chega então a vez do título.




Sobre “Duas dúzias de coisinhas à toa que deixam a gente feliz” Sintaticamente, o poema se organiza pela enumeração de expressões nominais diversas:

a) substantivo seguido de adjetivo ou locução adjetiva:

disco antigo sem chiado; pijama de flanela; cheirinho de mato molhado;

dropes de hortelã; grito do Tarzan; dias quentes de verão;

Almoço de domingo; revoada de flamingo; anãozinho de jardim, lacinho de cetim;

b) substantivo seguido de adjunto adverbial, além, eventualmente, dos dois anteriores:

passarinho na janela; brigadeiro na panela; pão quentinho de manhã;

um cachecol no pescoço ; vaga-lume aceso na mão; dias quentes de verão;

c) substantivo seguido de oração adjetiva:

papagaio que conversa; herói que fuma cachimbo;

d) verbos no infinitivo substantivado:

tirar a sorte no osso; jogar pedrinha no poço; pisar em tapete persa;

descer pelo corrimão; terminar o livro assim.

A forma verbal conjugada em uma oração completa aparece apenas

em uma “coisinha”: eu te amo e vice-versa.

As expressões nominais– substantivos, adjetivos e palavras que exercem essa função – nomeiam os elementos da realidade de forma estática, enquanto os verbos nomeiam os elementos da realidade de forma dinâmica. Levando isso em conta, poderíamos considerar que o conjunto do poema tende para o estático, o permanente, pelo predomínio de expressões com valor nominal. Apenas um dos elementos da lista apresenta o dinamismo verbal que vem expresso uma vez e subentendido uma segunda vez, na expressão “vice-versa”. Qual o verbo? Por que esse verbo?

Nenhum comentário:

Postar um comentário